6 de maio de 2015

Sara Brito: a identidade secreta

21ª Maratona de Badajoz 2013, 17 de Março

O jornal Na Boca do Lobo agradece a colaboração da professora Sara Brito e deseja-lhe os melhores resultados no futuro.

NBL O gosto pelo desporto já vem desde pequena? Se não, como surgiu?

SB Sim, desde pequenina que gosto de praticar desporto. Só que eu vivia numa aldeia muito longe da cidade e, portanto, para praticar desporto tinha que me levantar, às vezes às seis e cinco da manhã para arrumar o meu quarto e limpar a casa para depois poder ir praticar ginástica acrobática, andebol, etc. Sempre participei também em muitas actividades do desporto escolar
Depois fui para a faculdade de desporto, tirei o curso, casei, tive filhas e portanto o desporto “profissional” nunca surgiu.
Há 4 ou 5 anos, por brincadeira, comecei a correr. Entretanto alguém de um clube perguntou-me se não queria fazer parte do seu clube. Por brincadeira entrei, foram surgindo diferentes objectivos e agora são desafios quase todos os fins-de-semana.

NBL Escolheu o atletismo por algum motivo em especial?

SB Não, aliás sou sincera. Apesar de quando era pequena ter participado nos corta-matos escolares, como muitos alunos me dizem, nunca gostei de correr. Sempre gostei mais de desportos colectivos
Foi desde que entrei para o clube que comecei a ganhar gosto pela modalidade pois, além de ser um desporto muito prático e completo, começaram a surgir objetivos.
Depois, foi também esta nova modalidade: o trail. Lembro-me que acabei por ser uma das pioneiras. Como reúne natureza, uma parte recreativa e competição acabei por gostar.

NBL Qual o resultado mais importante que já alcançou na sua carreira? E como se sentiu ao atingi-lo?

SB Foi precisamente esta maratona. Primeiro porque foi a primeira vez que treinei com um plano de treino. E não só cumpri aquilo a que me tinha predisposto como superei as expectativas porque fiz melhor tempo e ganhei a maratona a todos os atletas que lá estavam.
A primeira maratona que fiz também me marcou bastante porque, lá está, é a prova rainha. Uma pessoa quando faz uma maratona é sempre algo de especial.

NBL Alguma vez pensou que iria estar a competir a este nível?

SB Não, nunca. Aliás, quando ganhei a maratona em 2013 (foi a segunda maratona que fiz), no dia em que fiz anos, eu ia a correr e a pensar que aquilo parecia um sonho. Lembro.me de estar a treinar para a maratona, gostei de treinar e ia com um objetivo definido. Mas nunca me passou pela cabeça que alguma vez iria ganhar.
E realmente acho que foi uma experiência única que me vai marcar para o resto da vida

NBL É difícil conciliar a vida profissional, o atletismo e a vida familiar?

SB É difícil, mas se formos organizados conseguimos fazer tudo. A questão é, como dou aulas aqui, tenho duas filhas na adolescência (uma fase muito complicada!) e a lida da casa, quando vou pôr uma à ginástica ou uma à explicação aproveito aquele bocadinho para treinar. Ou quando tenho um furo, às vezes já vou equipada para determinados sítios. Outras vezes venho da corrida, estou a fazer o jantar e com a perna em cima da bancada a fazer alongamentos para aproveitar o tempo todo (risos). De maneira que fácil não é mas com organização, método e perseverança é possível.
Ás vezes penso “ah se calhar deixava isto para estar um bocado mais liberta” mas sei que depois me vai faltar qualquer coisa e acabava por arranjar outra coisa qualquer. Portanto, enquanto for tendo estes resultados e estes objetivos vou fazendo provas mais curtas. À medida que vá ficando cada vez mais velha se calhar vou passar a fazer provas mais longas.

"Dorsal Dourado", Época 2012/2013


NBL E quais os objetivos para esta época?

SB Este ano estou a disputar o Circuito Nacional de Montanha (o ano passado fiquei em 2º do geral e 1ª do meu escalão). São provas que são do Norte ao Sul do país e que vão desde os 8km aos 42km. O objetivo é ganhar novamente o meu escalão e manter o 2º lugar (em que já me encontro).
Visto que já fiz marcas da maratona, gostava também de fazer uma meia maratona mesmo para tirar tempo.
Estou ainda a disputar o Campeonato do Calcário, em que também estou em primeiro lugar.

NBL Se pudesse viver unicamente do atletismo faria essa escolha?

SB Não não, isso não. Não é porque não goste. Em primeiro porque sei que são carreiras curtas e depois a pessoa fica condicionada e de mãos cortadas, além de que no nosso país isso não é possível. Para além de que o nosso organismo não comporta muitos anos em alta competição. Em segundo porque também gosto de dar aulas. Acho que como complemento é bom.
Se fosse mais novinha, lá está, teria de ser uma coisa muito bem pensada porque depois as carreiras acabam e uma pessoa tem que ter uma base para andar uns anos a usufruir só do atletismo e depois, quando acabar a carreira, poder ter a sua independência.

NBL Como professora de educação física, de que forma prática do desporto nas escolas contribui para a formação dos jovens?

SB Eu acho que é extremamente importante. Acho que a educação física, tal como a matemática e o português é uma disciplina que acompanha o desenvolvimento dos alunos desde a escola primária. É um veículo privilegiado para os alunos adquirirem uma quantidade de capacidades e aptidões psicomotoras e a nível de sociabilização além de que desenvolve também o espírito desportivo, a cooperação, o espírito de entreajuda sendo estas um conjunto de competências que um dia mais tarde vão ser necessárias, seja em que profissão for.
E apesar de no nosso país não se dar muita importância, é uma disciplina que na minha opinião deveria ser mais valorizada. Lutou-se durante anos e anos para que a disciplina contasse para a média para agora, passado 8 anos a retirarem sem uma explicação válida. E tenho muita pena por isso pois isto acaba por fazer com que alguns alunos não se esforcem. Mas pode ser que isto um dia mude.

NBL Na sua opinião pessoal, considera o jornalismo e a comunicação social (em geral) um importante meio para divulgação e desenvolvimento de iniciativas culturais no nosso país?

SB Considero pois. Apesar de agora se dar mais ênfase às redes sociais, eu penso que o jornal é sempre um veículo privilegiado para a divulgação de eventos e feitos. Claro que depois há as revistas cor-de-rosa, mas sem dúvida que acho muito importante.
E acho muito interessante esta vossa iniciativa de estarem a tentarem dinamizar o jornal da escola.

NBL Para concluir esta entrevista, considera que áreas como o desporto e a cultura são valorizados no nosso país ou sente-se alguma falta de apoio e talvez mesmo desinteresse?

SB Desde sempre que achamos que o desporto não é apoiado como deve de ser. As coisas não estão organizadas de forma a apoiar os escalões mais jovens, que é onde eu acho que havia de haver maior investimento.
Acho também que a captação nas escolas devia ser também mais aproveitada, apesar de os professores já fazerem isso.
Portanto acho que deveria haver um maior apoio, não só ao desporto mas também a outras áreas como a música, artes, etc (apesar apesar de já ter havido alguns avanços)

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