Thomas Santos: primeiro é preciso sonhar
É apenas um rapaz do 12º ano que sonha. Num país em que, e a opinião é homogénea, as artes não são apoiadas, o testemunho de alguém que como tantos outros, tenta suceder na área do teatro.
"O crime do Padre Amaro"
Na Boca do Lobo (NBL)
Digamos que esta não é uma área tão comum como o futebol ou mesmo a música,
porquê o teatro?
Thomas Santos (TS)
Bem para começar, com teatro podes fazer mil e uma coisas (desde representar,
dançar, cantar, ser investigador, dramaturgo, encenador, animador sociocultural,…),
este é o principal fator. De seguida, como teatro é uma das áreas que estudei
mais tempo, embora já tenha feito outros trabalhos\estudos em áreas distintas
(dança, nomeadamente hip-hop e música, guitarra e canto), esta foi sempre a
área que “puxou” mais de mim, pois é necessário entregar o corpo e alma a cada
personagem, dando isto um certo gozo, apesar de muitas vezes acabares por ficar
de tal forma agarrado à personagem que te custa voltar à tua própria pessoa. Um
dos outros factores foi o facto de estar há quatro anos a participar em
concursos de teatro e num dos anos ter ganho,o que ainda me fez apaixonar mais pela
arte de representar, por fim como diz o ator António Fonseca, ”Um ator nunca
deixa de ser ator”, isto simboliza que nós somos sempre atores, mesmo quando somos
pessoas.
NBL Em que medida é
que achas que te ajuda na tua vida pessoal e escolar?
TS O teatro ajuda-me bastante a nível pessoal, visto que surge como uma fonte de distracção no
sentido de que “desligo” por umas horas do que se passa lá fora, pois estou de
tal forma focado no que se está a passar em cena, que tento não pensar em mais nada,
apenas tenho atenção em ser alguém através de palavras, alguém que consegue ver
um mundo que muitos não viriam, dar sentimentos e exprimir emoções daí se
designar de “personagem”. A nível escolar, ajuda me na realização de
apresentações orais, pois como o teatro exige muita criatividade,
expressividade e sobretudo um à vontade, na exposição faz com que
encare os meus colegas, não como colegas, mas sim como uma plateia à qual o
objectivo é transmitir a mensagem que trago preparada e agradar. Isto torna-se vantajoso no final, visto que são factores que determinam a
avaliação.
NBL Pretendes seguir
esta área no futuro?
TS Sim, esse é um
dos meus objectivos, conseguir tirar o curso de teatro e ir trabalhar para
fora, poderá apenas ser um sonho, mas a verdade é que em primeiro é preciso
sonhar para depois concretizar, por exemplo, à cerca de dois anos atrás sonhava
estar em palco com uma peça escrita e interpretada por mim, e hoje o que
começou por ser um sonho tornou-se realidade, mas foi preciso acreditar e
trabalhar, porque também sem esforço nunca (ou raramente) se consegue obter algo.
NBL E porquê?
TS Porquê... Porque para
quem não sabe eu sou uma pessoa que adora estar em movimento, logo nunca daria
para ser advogado ou até mesmo secretário, o que não significa que não os
admire, mas desde pequeno que gosto de palcos, de luzes, de sentir aquele
nervosismo quando se aproxima a altura de entrar em palco. Se fosse pelos meus
pais provavelmente nunca seria ator, era ou médico ou advogado, mas ambos sabem
que isto já não é um sonho, mas a realidade. A minha mãe já aceitou a minha
decisão, contudo o meu pai ainda tem a esperança que desista da ideia, a
questão que lhes faço é “és tu que vais trabalhar por mim?“ Basta esta
pergunta para perceberem a minha escolha.
NBL Pedimos agora a tua opinião, achas que a
cultura e as novas iniciativas em Portugal são de alguma forma apoiadas?
TS Para ser
sincero, até que não acho que sejam
apoiadas, dado o facto de que quando abrimos um jornal, o que vamos
encontrar com mais frequência são artigos sobre futebol, não é que seja
contra, muito pelo contrário até que apoio, mas também era preciso haver mais
notícias sobre dança, teatro e música, pois são através destes meios que
podemos retirar algo que nos complete e que nos instrua para nos tornarmos
cidadãos cultos, com sabedoria e conhecimento. É desta forma que acho que o
nosso país se torna retrógrado em relação a outros.
"Só há uma vida e nela quero ter tempo para construir-me"
NBL Qual é a
importância do jornalismo e da comunicação social, no sentido de apoio à
divulgação das iniciativas?
TS A importância do meios de comunicação pode ser extremamente grande, pois é através destes que conseguimos “atrair” o público alvo para passar uma ou que seja duas horas distantes dos problemas do mundo. Em relação ao apoio, sim são um elemento fundamental, pois através dos mesmos conseguimos ser reconhecidos, não pelas pessoas que somos, mas pelo trabalho que desempenhamos e do qual queremos ser de alguma forma reconhecidos, isto não acontece somente nas artes, mas em todas as áreas. Apesar de ultimamente não serem muito visíveis, pois não podemos dizer que as artes são áreas apoiadas. Muita gente acha que as artes não são uma profissão, mas sim que são apenas meras ilusões, é necessário demonstrar o seu valor, e nós como a nova geração, temos o dever de as promover e apoia-las ao máximo.
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