25 de abril de 2014

E as mulheres?


                               


Sempre me fez impressão o facto de, quando se aborda o tema do 25 de Abril, nunca se falar das mulheres. Afinal de contas, onde estavam as mulheres neste dia? Será que foi vivido apenas no masculino?
     Não seria de estranhar, uma vez que as Forças Armadas ainda não tinham aberto os seus quartéis à participação feminina e a classe política era dominada exclusivamente pelos homens. No entanto, parece-me difícil que elas tivessem desempenhado um papel meramente passivo nesta Revolução, que as remetia para o seu cargo tradicional, “permanecendo no espaço privado, a casa, e deixando livre todo o espaço público para a afirmação masculina”, como afirmou Edite Estrela.
      Se se fala neste dia, fala-se na Revolução dos Cravos. Todos conhecem este símbolo da Revolução de 25 de Abril de 1974, que depôs o regime ditatorial instalado há décadas no país, mas poucos são aqueles que conhecem as mãos de onde saíram.
     A versão mais conhecida da história sobre o aparecimento dos cravos no 25 de Abril foi protagonizada por Celeste Caeiro, atualmente com quase 81 anos, que, na madrugada desse dia, ao aperceber-se do tumulto, se aproximou para falar com um dos soldados, que, por sua vez, lhe pediu um cigarro; a florista da Baixa Lisboeta, que não fumava, decidiu então oferecer-lhe um cravo, e, ao recebê-lo, o soldado colocou-o no cano da espingarda. E assim fizeram os demais soldados que se aproximaram e receberam de Celeste Caeiro um cravo vermelho.
     Outro contributo feminino é, desta vez, protagonizado por Clarisse Guerra, locutora do RCP (Rádio Clube Português) e primeira mulher a ler um comunicado do MFA, em que se noticiavam os objetivos já conquistados e onde era ainda divulgado o cerco ao Professor Marcelo Caetano e outros membros do governo, no quartel do Carmo. Neste comunicado das 14.30h, Clarisse Guerra informa também que tudo se processa de acordo com as previsões: os objetivos estão cumpridos e as mais importantes figuras do regime, sob prisão.
     A partir deste dia, as mulheres sofreram uma profunda alteração nas suas vidas.
A presença das mulheres no processo revolucionário contribuiu para o fim das discriminações de que eram alvo e estimulou uma alteração radical nas mentalidades, enfraquecendo assim, os preconceitos e os valores retrógrados e opressores do regime fascista, relativamente ao papel das mulheres na família, no trabalho e na sociedade. Tal como alguém afirmou “não há mudanças sociais até as mulheres entrarem em cena”.

Se fosse hoje, como seria?

Ligeiramente diferente, quer-me parecer.
     Nos dias que correm, ainda que minoritariamente, as mulheres ocupam já vários cargos no poder, quer seja no governo, no Parlamento ou em associações, mas infelizmente, passados 40 anos, é possível concluir que elas ainda não conseguiram conquistar o direito à igualdade, pelo qual tanto lutaram.
Talvez, quem sabe, este sonho possa ser alcançado pela nossa geração e não seja necessário esperar mais 40 anos.

Patrícia Mota Viana, 12ºL

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