António Maduro: dá-nos uma perspetiva diferente
No seguimento da apresentação do livro “Cister em Alcobaça”, estivemos o pouco à conversa com o autor e professor António Maduro.
(da esquerda para a direita)
António Maduro, Rui Rasquilho e Eduardo Gonçalves
Apresentação do livro “Cister em Alcobaça”, 17/01/2015
Na Boca do Lobo (NBL) Como surgiu a ideia de escrever um livro e porquê sobre a
Cister?
António Maduro (AM) Este livro que saiu é a publicação da minha tese de
doutoramento. Portanto, eu defendi a tese de doutoramento em 2007 e o livro
saiu em 2011 e agora houve uma reapresentação do livro na minha terra, onde
ainda não tinha havido. Porquê a Cister? Precisamente porque eu estudei a ordem
“cistersian” no seu final de vida, ou seja, finais do século XVII, XVIII e XIX.
O objeto de estudo é a economia, sobretudo, a seculogia, sociedade, que foi o
que eu trabalhei.
NBL Foi
difícil conciliar a escola, o ensino, com a escrita?
AM Eu estive
quatro anos como bolseiro do Ministério da Educação e portanto só quando entrei
aqui, nesta escola, pelo primeiro ano é que terminei a tese e o processo de
escrita, fiz depois a sua defesa.
NBL Sente
alguma coisa de diferente, agora com o livro já publicado? O facto de ter o
nome em alguma coisa é um momento de concretização.
AM Não.
Sabem que este não foi o meu primeiro livro. Eu sou professor no secundário,
mas sou investigador de algumas universidades, estou, digamos, com a minha
perninha principal cá, mas depois sou investigador da Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro e da Universidade de Coimbra e é normal que vá
publicando. Tese de doutoramento não, isso só se faz uma vez na vida, até porque
envelhece muito uma pessoa. *risos*
NBL Ao trabalhar
nessas instituições já o levou a pensar nalgum projeto, ou seja, o próximo livro?
AM Próximo
livro? Eu trabalho muito em equipa com outros investigadores, de momento
colaboro no Dicionário Português por exemplo. Estou também a escrever um livro
em coletivo sobre viagens, estrangeiros que visitaram o país e a sua opinião sobre
os portugueses, o que é um assunto bastante dinâmico. E depois investigo,
sobretudo centrando-me na história agrária, essencialmente sobre a história do
vinho, não é um assunto que interessa a muita gente mas tem, sobretudo, muito
peso a nível dos investigadores do norte do país.
NBL E de
que forma a escrita contribui para a sua formação pessoal e profissional?
AM Como
hei-de dizer… É sobretudo uma realização pessoal. Nós não vamos aplicar o
conhecimento que temos, quer dizer, ele é importante para termos uma nova
perspetiva e uma nova abordagem da história, mas não posso verter esses
conhecimentos “hiperdesenvolvidos” no ensino. Permite-me apenas uma nova
perspetiva histórica e uma perspetiva de conhecimento diferente.
Discurso no jantar comemorativo dos
80 Anos da Cooperativa Agrícola de Alcobaça
NBL Que conselho
dá a quem pretende escrever um livro?
AM Sabem,
primeiro para escrever é preciso ter um interesse, ter um objeto de estudo e, portanto,
imaginando, vocês vão fazer uma licenciatura todos contentes e felizes e depois
vão ter que eleger um tema para uma tese de mestrado, então vocês necessitam de
um chamado grande problema de investigação, um problema já identificado, e vão
ver toda a literatura, o já produzido sobre aquele assunto, depois de terem
esse conhecimento básico, vão criar o tal grande problema de investigação, depois,
e a partir desse problema de investigação, criam-se vários outros objetivos. Tendo
isso presente, vocês vão começar o processo de investigação. Acontece muitas
vezes que a vossa procura não vos dá a resposta pretendida mas a resposta a
outras questões, então a tese está sempre a ser rescrita. Por isso se diz que
uma tese é dialética.
NBL Falando
agora sobre a experiência pessoal, acha que em Portugal há apoio às artes e à
cultura? Teve apoios na publicação dos seus livros?
AM São
coisas que mudam muito conforme as oportunidades que nós temos. O Estado preocupa-se
pouco. Ultimamente temos um grande “desinvestimento” na cultura e nomeadamente
nas áreas das ciências sociais e humanas que são muito desprezadas. As unidades
de investigação no nosso país, que são apoiadas pela Fundação das Ciências e
Tecnologia sofreram, este ano, uma grande eclosão, aliás houve muitas que
desapareceram. Atualmente há um grande retrocesso a nível geral e o nosso país
tem um atraso cultural muito grande. Não existem apoios específicos e a cultura
é um “parente pobre”, por isso mesmo é que não há Ministério da Cultura.
NBL Qual
é, para si, a importância do jornalismo e da comunicação social, no geral, no
sentido de apoio, transmissão e divulgação das iniciativas na sociedade?
AM Acho
muito significativo, desde que os jornalistas consigam ser isentos, o que nem
sempre acontece também pela espécie de censura dentro do próprio jornal. Necessitam
ainda de princípios éticos e morais, sobretudo de uma boa formação. Para
poderem fazer perguntas mais substantivas, e não o que se nota muitas vezes no
nosso jornalismo mediático, que é só para o acontecimento, quando o que é
necessário é de facto formar uma boa geração de bons jornalistas e ao mesmo
tempo dar-lhes uma oportunidade de trabalho. E nós sabemos que hoje em dia, isso
significa que alguém na nossa geração vai ser altamente penalizado.
Terminamos com um agradecimento especial a todos os entrevistados nesta semana e de novo as felicitações à nossa escola por mais um ano de ensino. A todos os que nos leram, também um obrigado e estudem, que os exames estão perto!
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