8 de maio de 2015

António Maduro: dá-nos uma perspetiva diferente

No seguimento da apresentação do livro “Cister em Alcobaça”, estivemos o pouco à conversa com o autor e professor António Maduro. 



(da esquerda para a direita) 
António Maduro, Rui Rasquilho e Eduardo Gonçalves
 Apresentação do livro “Cister em Alcobaça”, 17/01/2015


Na Boca do Lobo (NBL) Como surgiu a ideia de escrever um livro e porquê sobre a Cister?

António Maduro (AM) Este livro que saiu é a publicação da minha tese de doutoramento. Portanto, eu defendi a tese de doutoramento em 2007 e o livro saiu em 2011 e agora houve uma reapresentação do livro na minha terra, onde ainda não tinha havido. Porquê a Cister? Precisamente porque eu estudei a ordem “cistersian” no seu final de vida, ou seja, finais do século XVII, XVIII e XIX. O objeto de estudo é a economia, sobretudo, a seculogia, sociedade, que foi o que eu trabalhei.

NBL Foi difícil conciliar a escola, o ensino, com a escrita?

AM Eu estive quatro anos como bolseiro do Ministério da Educação e portanto só quando entrei aqui, nesta escola, pelo primeiro ano é que terminei a tese e o processo de escrita, fiz depois a sua defesa.           

NBL Sente alguma coisa de diferente, agora com o livro já publicado? O facto de ter o nome em alguma coisa é um momento de concretização.

AM Não. Sabem que este não foi o meu primeiro livro. Eu sou professor no secundário, mas sou investigador de algumas universidades, estou, digamos, com a minha perninha principal cá, mas depois sou investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e da Universidade de Coimbra e é normal que vá publicando. Tese de doutoramento não, isso só se faz uma vez na vida, até porque envelhece muito uma pessoa. *risos*

NBL Ao trabalhar nessas instituições já o levou a pensar nalgum projeto, ou seja, o próximo livro?

AM Próximo livro? Eu trabalho muito em equipa com outros investigadores, de momento colaboro no Dicionário Português por exemplo. Estou também a escrever um livro em coletivo sobre viagens, estrangeiros que visitaram o país e a sua opinião sobre os portugueses, o que é um assunto bastante dinâmico. E depois investigo, sobretudo centrando-me na história agrária, essencialmente sobre a história do vinho, não é um assunto que interessa a muita gente mas tem, sobretudo, muito peso a nível dos investigadores do norte do país.

NBL E de que forma a escrita contribui para a sua formação pessoal e profissional?


AM Como hei-de dizer… É sobretudo uma realização pessoal. Nós não vamos aplicar o conhecimento que temos, quer dizer, ele é importante para termos uma nova perspetiva e uma nova abordagem da história, mas não posso verter esses conhecimentos “hiperdesenvolvidos” no ensino. Permite-me apenas uma nova perspetiva histórica e uma perspetiva de conhecimento diferente.

Discurso no jantar comemorativo dos 
80 Anos da Cooperativa Agrícola de Alcobaça


NBL Que conselho dá a quem pretende escrever um livro?

AM Sabem, primeiro para escrever é preciso ter um interesse, ter um objeto de estudo e, portanto, imaginando, vocês vão fazer uma licenciatura todos contentes e felizes e depois vão ter que eleger um tema para uma tese de mestrado, então vocês necessitam de um chamado grande problema de investigação, um problema já identificado, e vão ver toda a literatura, o já produzido sobre aquele assunto, depois de terem esse conhecimento básico, vão criar o tal grande problema de investigação, depois, e a partir desse problema de investigação, criam-se vários outros objetivos. Tendo isso presente, vocês vão começar o processo de investigação. Acontece muitas vezes que a vossa procura não vos dá a resposta pretendida mas a resposta a outras questões, então a tese está sempre a ser rescrita. Por isso se diz que uma tese é dialética.

NBL Falando agora sobre a experiência pessoal, acha que em Portugal há apoio às artes e à cultura? Teve apoios na publicação dos seus livros?

AM São coisas que mudam muito conforme as oportunidades que nós temos. O Estado preocupa-se pouco. Ultimamente temos um grande “desinvestimento” na cultura e nomeadamente nas áreas das ciências sociais e humanas que são muito desprezadas. As unidades de investigação no nosso país, que são apoiadas pela Fundação das Ciências e Tecnologia sofreram, este ano, uma grande eclosão, aliás houve muitas que desapareceram. Atualmente há um grande retrocesso a nível geral e o nosso país tem um atraso cultural muito grande. Não existem apoios específicos e a cultura é um “parente pobre”, por isso mesmo é que não há Ministério da Cultura.

NBL Qual é, para si, a importância do jornalismo e da comunicação social, no geral, no sentido de apoio, transmissão e divulgação das iniciativas na sociedade?

AM Acho muito significativo, desde que os jornalistas consigam ser isentos, o que nem sempre acontece também pela espécie de censura dentro do próprio jornal. Necessitam ainda de princípios éticos e morais, sobretudo de uma boa formação. Para poderem fazer perguntas mais substantivas, e não o que se nota muitas vezes no nosso jornalismo mediático, que é só para o acontecimento, quando o que é necessário é de facto formar uma boa geração de bons jornalistas e ao mesmo tempo dar-lhes uma oportunidade de trabalho. E nós sabemos que hoje em dia, isso significa que alguém na nossa geração vai ser altamente penalizado.

Terminamos com um agradecimento especial a todos os entrevistados nesta semana e de novo as felicitações à nossa escola por mais um ano de ensino. A todos os que nos leram, também um obrigado e estudem, que os exames estão perto!

Sem comentários:

Enviar um comentário