Sara Brito:
a identidade secreta
21ª Maratona de Badajoz 2013, 17 de Março
O jornal Na Boca do Lobo agradece a colaboração da professora Sara Brito e deseja-lhe os melhores resultados no futuro.
NBL O gosto pelo desporto já
vem desde pequena? Se não, como surgiu?
SB Sim, desde pequenina que
gosto de praticar desporto. Só que eu vivia numa aldeia muito longe da cidade
e, portanto, para praticar desporto tinha que me levantar, às vezes às seis e
cinco da manhã para arrumar o meu quarto e limpar a casa para depois poder ir
praticar ginástica acrobática, andebol, etc. Sempre participei também em muitas
actividades do desporto escolar
Depois fui para a faculdade de desporto, tirei o curso, casei, tive
filhas e portanto o desporto “profissional” nunca surgiu.
Há 4 ou 5 anos, por brincadeira, comecei a correr. Entretanto alguém de
um clube perguntou-me se não queria fazer parte do seu clube. Por brincadeira
entrei, foram surgindo diferentes objectivos e agora são desafios quase todos
os fins-de-semana.
NBL Escolheu o atletismo por
algum motivo em especial?
SB Não, aliás sou sincera.
Apesar de quando era pequena ter participado nos corta-matos escolares, como
muitos alunos me dizem, nunca gostei de correr. Sempre gostei mais de desportos
colectivos
Foi desde que entrei para o clube que comecei a ganhar gosto pela
modalidade pois, além de ser um desporto muito prático e completo, começaram a
surgir objetivos.
Depois, foi também esta nova modalidade: o trail. Lembro-me que acabei
por ser uma das pioneiras. Como reúne natureza, uma parte recreativa e
competição acabei por gostar.
NBL Qual o resultado mais
importante que já alcançou na sua carreira? E como se sentiu ao atingi-lo?
SB Foi precisamente esta
maratona. Primeiro porque foi a primeira vez que treinei com um plano de
treino. E não só cumpri aquilo a que me tinha predisposto como superei as
expectativas porque fiz melhor tempo e ganhei a maratona a todos os atletas que
lá estavam.
A primeira maratona que fiz também me marcou bastante porque, lá está,
é a prova rainha. Uma pessoa quando faz uma maratona é sempre algo de especial.
NBL Alguma vez pensou que
iria estar a competir a este nível?
SB Não, nunca. Aliás, quando
ganhei a maratona em 2013 (foi a segunda maratona que fiz), no dia em que fiz
anos, eu ia a correr e a pensar que aquilo parecia um sonho. Lembro.me de estar
a treinar para a maratona, gostei de treinar e ia com um objetivo definido. Mas
nunca me passou pela cabeça que alguma vez iria ganhar.
E realmente acho que foi uma experiência única que me vai marcar para o
resto da vida
NBL É difícil conciliar a
vida profissional, o atletismo e a vida familiar?
SB É difícil, mas se formos
organizados conseguimos fazer tudo. A questão é, como dou aulas aqui, tenho
duas filhas na adolescência (uma fase muito complicada!) e a lida da casa,
quando vou pôr uma à ginástica ou uma à explicação aproveito aquele bocadinho
para treinar. Ou quando tenho um furo, às vezes já vou equipada para
determinados sítios. Outras vezes venho da corrida, estou a fazer o jantar e
com a perna em cima da bancada a fazer alongamentos para aproveitar o tempo
todo (risos). De maneira que fácil não é mas com organização, método e
perseverança é possível.
Ás vezes penso “ah se calhar deixava isto para estar um bocado mais
liberta” mas sei que depois me vai faltar qualquer coisa e acabava por arranjar
outra coisa qualquer. Portanto, enquanto for tendo estes resultados e estes
objetivos vou fazendo provas mais curtas. À medida que vá ficando cada vez mais
velha se calhar vou passar a fazer provas mais longas.
"Dorsal Dourado", Época 2012/2013
NBL E quais os objetivos
para esta época?
SB Este ano estou a disputar
o Circuito Nacional de Montanha (o ano passado fiquei em 2º do geral e 1ª do meu
escalão). São provas que são do Norte ao Sul do país e que vão desde os 8km aos
42km. O objetivo é ganhar novamente o meu escalão e manter o 2º lugar (em que
já me encontro).
Visto que já fiz marcas da maratona, gostava também de fazer uma meia
maratona mesmo para tirar tempo.
Estou ainda a disputar o Campeonato do Calcário, em que também estou em
primeiro lugar.
NBL Se pudesse viver
unicamente do atletismo faria essa escolha?
SB Não não, isso não. Não é
porque não goste. Em primeiro porque sei que são carreiras curtas e depois a
pessoa fica condicionada e de mãos cortadas, além de que no nosso país isso não
é possível. Para além de que o nosso organismo não comporta muitos anos em alta
competição. Em segundo porque também gosto de dar aulas. Acho que como
complemento é bom.
Se fosse mais novinha, lá está, teria de ser uma coisa muito bem
pensada porque depois as carreiras acabam e uma pessoa tem que ter uma base
para andar uns anos a usufruir só do atletismo e depois, quando acabar a
carreira, poder ter a sua independência.
NBL Como professora de
educação física, de que forma prática do desporto nas escolas contribui para a
formação dos jovens?
SB Eu acho que é
extremamente importante. Acho que a educação física, tal como a matemática e o
português é uma disciplina que acompanha o desenvolvimento dos alunos desde a
escola primária. É um veículo privilegiado para os alunos adquirirem uma
quantidade de capacidades e aptidões psicomotoras e a nível de sociabilização
além de que desenvolve também o espírito desportivo, a cooperação, o espírito
de entreajuda sendo estas um conjunto de competências que um dia mais tarde vão
ser necessárias, seja em que profissão for.
E apesar de no nosso país não se dar muita importância, é uma
disciplina que na minha opinião deveria ser mais valorizada. Lutou-se durante
anos e anos para que a disciplina contasse para a média para agora, passado 8
anos a retirarem sem uma explicação válida. E tenho muita pena por isso pois
isto acaba por fazer com que alguns alunos não se esforcem. Mas pode ser que
isto um dia mude.
NBL Na sua opinião pessoal,
considera o jornalismo e a comunicação social (em geral) um importante meio
para divulgação e desenvolvimento de iniciativas culturais no nosso país?
SB Considero pois. Apesar de
agora se dar mais ênfase às redes sociais, eu penso que o jornal é sempre um
veículo privilegiado para a divulgação de eventos e feitos. Claro que depois há
as revistas cor-de-rosa, mas sem dúvida que acho muito importante.
E acho muito interessante esta vossa iniciativa de estarem a tentarem
dinamizar o jornal da escola.
NBL Para concluir esta
entrevista, considera que áreas como o desporto e a cultura são valorizados no
nosso país ou sente-se alguma falta de apoio e talvez mesmo desinteresse?
SB Desde sempre que achamos
que o desporto não é apoiado como deve de ser. As coisas não estão organizadas
de forma a apoiar os escalões mais jovens, que é onde eu acho que havia de
haver maior investimento.
Acho também que a captação nas escolas devia ser também mais
aproveitada, apesar de os professores já fazerem isso.
Portanto acho que deveria haver um maior apoio, não só ao desporto mas
também a outras áreas como a música, artes, etc (apesar apesar de já ter havido
alguns avanços)